Segunda-feira, 11 de Maio
Esta tarde, no Museu do Cairo, entre um sorriso doce da princesa Nafrit e um olhar desconfiado dessa velha águia real que é o faraó Ramsés II, os meus olhos poisaram sobre a múmia pálida de Tut-Ank-Amon. Uma luz doirada, que caía do alto, iluminava o cristal da urna funerária. À minha volta, em meio de um silêncio sepulcral, erravam sombras milenárias. Nos vasos de alabastro, animavam-se as figurinhas elegantes do primeiro império. Uma penumbra doce envolvia no seu leito de morte a figura melancólica do faraó. Nos seus lábios tristes pairava um resplendor de eternidade.
Este é um dos apontamentos de viagem redigidos por esse proeminente jornalista português que foi Norberto Lopes (1900-1989)em "Mais vale andar no mar alto...". Um livro escrito sobre o mar. No recolhimento da câmara de um navio de guerra, à hora em que as embarcações dormiam sobre os turcos, eu ia traçando rapidamente as minhas impressões num diário de viagem. Palavras do prefácio que o autor concluía com convicção: (..) viajar é viver numa eterna ilusão, num eterno sonho de felicidade, num eterno encantamento dos sentidos e o homem vive muito mais de ilusões, de sonhos e de quimeras do que da nudez triste da realidade. A ilustração da capa saiu da proficiência de Stuart Carvalhais (1887- 1961). Creio que o elegante grafismo da capa seja também de Stuart, artista sobre quem se pode encontrar muita documentação na internet, como teria de ser tratando-se de alguém que nos legou obra notável no domínio da ilustração e da caricatura, entre outras áreas, designadamente a banda desenhada de que foi um pioneiro.
Este livro, que tive de ler e colocar no scaner com todo o cuidado, data de 1925.
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