8 de março de 2008

Carta



Alberto de Serpa por António Carneiro, 1929. Reproduzido de A Poesia de Alberto de Serpa, Edições Nova Renascença.


O interessante de um blog é também a não obrigatoriedade de publicar. A Galena pauta-se por aquele provérbio árabe «se o que tens a dizer não é mais belo que o silêncio, então cala-te». Tenho portanto empreendido reproduzir palavras e imagens transcendentes ou generosas e procuro não contundir demasiado o silêncio com o que eu mesmo crio e com a forma como comunico. Por outro lado, por vezes, devido a vicissitudes várias, o ímpeto de publicar algo não passa de intenção que mesmo a determinação não consegue concretizar. É o caso de um post que redigi há mais de um ano mas ficou retido, inacabado e esquecido. Encontrei-o hoje, e a verdade é que ele contém algo de muito belo e que portanto não vou silenciar mais.


22/10/57

Todos nós viajamos muito…
… Eu mesma estou voltando agora de Porto-Rico, com muitos canaviais pela alma, e muito vento do Caribe. Isto há-de virar também romance, e então lhe falará melhor.

Adeus, Poeta. Mande-me sempre seus versos e, se puder, alguma notícia. Sua constante amiga
Cecília


Estas gentis palavras, envolvidas de sortilégio, eram dirigidas do Brasil, dentro de um envelope emoldurado a verde e amarelo, por Cecília Meireles para o poeta Alberto de Serpa no Porto. Anotei-as em Dezembro de 2006 quando visitei a exposição “Alberto de Serpa, A Paixão de Coleccionar”, organizada pela Biblioteca Pública Municipal do Porto. Comemorava-se o centenário do nascimento do poeta que ao longo da sua vida manteve amizade e contactos com imensos intelectuais portugueses e estrangeiros. A exposição mostrava numerosíssimo acervo, reunido por Alberto de Serpa ao longo da sua vida, designadamente cartas, cartões, desenhos e manuscritos de importantes figuras da cultura.
As palavras de Cecília Meireles com muitos canaviais pela alma, perduraram na missiva acautelada por Serpa. O que é belo e importante sempre perdura.

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