15 de janeiro de 2007

Wally Salomão (2)


Sailormoon, Wally – Não há informação biográfica, mas sabe-se que é um poeta jovem, muito inconformista, com uma tremenda actividade. Eram as informações sobre Wally que Gramiro de Matos e Manuel Seabra introduziam na Antologia da Novíssima Poesia Brasileira editada em Portugal, sem data, mas que julgo ter sido publicada na esquina dos anos 70 e 80. Nessa altura, se já era difícil adquirir em Portugal um livro de Drummond, imagine-se quanto mais o era acompanhar o trabalho de nomes que no Brasil, citando a professora e critíca literária Heloísa Buarque de Hollanda, marcavam a virada do formalismo experimental para a nova produção poética de carácter informal.
Trabalho. Produção. Palavras que grafei em cima. E lembro-me que Wally definiu o seu ofício de poeta assim "açougueiro sem câimbra nos braços / eu faço versos como quem talha./ A facão./ E talho para debastar os excessos: / aparto de mim uma ruma de poemas."
"A memória é uma ilha de edição". Outras palavras de Wally. Recorte. Colagem. A poesia deste poeta baiano provém de uma mesa de montagem, "cercado de Lexicon, Synthaxis" e outras parafernálias linguísticas.
Mesa de montagem instalada no Pavilhão 2 do Carandiru, onde esteve preso acusado de posse de drogas no início dos anos 70, Wally escreveu o tenso e surpreendente Me Segura Que Eu Vou Dar Um Troço, cuja capa (com uma fotografia do meu amigo Ivan Cardoso) aí fica.
Letrista abundante, as suas palavras encontram-se também espalhadas em discos de Caetano, Bethânia, Calcanhotto, eu sei lá. Livros, vários. Mas em Portugal, penso, ainda não acháveis.
Wally Salomão faleceu em 2003. Caetano canta em Cê "findaste o teu desenho /e a tua marca sobre a terra resplandece / resplandece nítida e real/ entre livros e os tambores do vigário geral /e o brilho não é pequeno"
Colocarei mais algum post sobre Wally Salomão. Se me der na veneta.


REVENDO AMIGOS

se me der na veneta eu vou
se me der na veneta eu mato
se me der na veneta eu morro
e volto para curtir
se pintar algum xote eu tou
se pintar um xaxado eu xaxo
se cair algum coco eu corro
e volto para curtir
se chego num dia
a cidade é porreta
se chego num dia
a cidade é careta
se chego num dia e me arranco no outro
e se eu me perder da nau catarineta
eu vou eu mato eu morro
e volto para curtir
na sopa ralada
eu volto para cuspir na sopa ensopada
eu volto para cuspir
eu vou mato e morro
e volto pra curtir
mas eu já morri
e volto para curtir
eu já morri
eu vou mato e morro
e volto para curtir

musicado por Jards Macalé

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